Com desemprego e preços dos alimentos nas alturas, necessidades da população são cada vez mais básicas.
“Ou pago o aluguel, ou faço alguma coisa em relação à alimentação das crianças. Eu vou na feira, cato, peço, porque não tem como.”
O relato de Jaqueline Lima Félix, de 22 anos, sintetiza o desespero de milhões de famílias em meio à pandemia de covid-19.
Desempregada desde 2019 e com dois filhos para sustentar, Jaqueline recebe um auxílio emergencial de R$ 375.
A casa onde ela vive com os filhos tem um cômodo único – o banheiro fica do lado de fora. Assim que paga o aluguel, sobram apenas R$ 125, insuficientes para a alimentação dos três.
Conforme dados do grupo de pesquisa Alimento para Justiça: Poder, Política e Desigualdades Alimentares na Bioeconomia, com sede na Freie Universität Berlin, na Alemanha, 125,6 milhões de brasileiros sofreram com insegurança alimentar durante a pandemia. O número equivale a 59,3% da população do país e se baseia em pesquisa realizada entre agosto e dezembro de 2020.
“Um pacote de fralda, um fardo de leite, custa R$ 50. Não cabe no orçamento do auxílio”, lamenta a trabalhadora, que já foi faxineira e atendente no comércio, mas desistiu de procurar emprego.
“A gente acorda sem esperança de ter um pão, um café da manhã, um arroz. E sem saber se vai ter para comer no dia seguinte.”
Para sair do aluguel, que considera abusivo, Jaqueline está construindo um barraco na ocupação Carolina Maria de Jesus, organizada pelo Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) na zona leste de São Paulo (SP).
Jaqueline vive de doações da igreja e só faz duas refeições ao dia: café da manhã, ao acordar, e um almoço tardio, que se confunde com a janta.
A tábua de salvação da família são as cozinhas solidárias organizadas durante a pandemia pelo MTST. Por meio de doações, integrantes do movimento preparam e distribuem refeições grátis diariamente em cerca de 20 unidades em 11 estados brasileiros.
Fonte Brasil de Fato